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MISSÃO TRANSCULTURAL: Projeto Casa Viva será retomado na Guiné-Bissau Categorias:
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Com ajustes às novas regras do governo guineense, o missionário Robson Oliveira e uma equipe de obreiros estão prontos para o trabalho com crianças e famílias através da alfabetização, alcançando também meninos talibés com assistência social e estabelecendo relacionamento na comunidade local

Por Larissa Mazaloti – Jocum Brasil

Quando um missionário tem uma nação específica no coração, não tem quem o segure. O relacionamento dele com Deus e com  as pessoas parece estar sempre permeado pelas histórias vividas no país dos sonhos e os projetos para voltar lá. O líder da Jocum Sion, de Macaé – RJ, Robson Oliveira, teve o coração capturado pelo povo da Guiné-Bissau. A partir disso ele foi além de interceder ou imaginar como seria poder conhecer mais de perto esse país que fica na costa ocidental da África, fazendo fronteira com Guiné, Senegal e com o oceano Atlântico. Ele, com uma equipe de outros missionários, iniciou o projeto Casa Viva com o objetivo de acolher os meninos talibés (Veja mais sobre eles no final do texto) resgatados nas ruas do país. 

Com uma gravidez de risco, o casal que estava como residente do projeto precisou voltar ao Brasil e o projeto está parado há três anos. O momento agora é de preparação para uma nova viagem até Guiné-Bissau, em que Robson e uma equipe irão retomar as atividades. Ele conta que em 2011 um terreno foi comprado e uma casa foi construída em um bairro vizinho ao bairro onde fica a base da Jocum. Por conta do tipo de trabalho que estavam dispostos a realizar, o ambiente precisava ser desvinculado do caráter missionário já conhecido por lá. 

MUDANÇAS NAS REGRAS DO PAÍS

Em 2015 o governo da Guiné-Bissau proibiu qualquer novo projeto com estas crianças, assumindo para si essa atribuição. Conforme relata Robson, o país não tem estrutura ou pessoas interessadas e qualificadas para atender as necessidades da população infantil daquele local. A medida, portanto, expressa o desejo de impedir que qualquer influência externa possa intervir na situação dos meninos Talibés.

Essa mudança, segundo Robson, deixou em aberto apenas a possibilidade de trabalho com crianças que nascem com deficiência, e por isso são abandonadas pela família. No passado, na cultura guineense crianças nessa situação eram assassinadas. Porém, Robson explica que esse não é o direcionamento do projeto e nem há uma estrutura ou um preparo para isso”. Mas deixamos a porta do projeto aberta e encontramos a necessidade de crianças do próprio bairro cujas famílias não têm condições financeiras para que as meninas estudem”, conta e informa que dentro da cultura, a prioridade do estudo é sempre dos meninos.

ESTRATÉGIAS

As expectativas da equipe estão alinhadas com a nova realidade de restrições do governo. Por isso Robson diz que somente ao chegar lá e retomar o projeto será possível saber o quanto terão acesso. “Lá já sabem que quem faz projeto é missionário e missionário é cristão. Isso causa resistência pelo medo de interferências na religião e cultura deles. Para evitar o risco, preferem crianças na rua do que cristãos cuidando delas”, constata.

Através de uma parceria com o governo o projeto Casa Viva será uma casa de passagem e não um abrigo. Ou seja, não trabalharão com o resgate das crianças na rua, mas receberão temporariamente as que forem encaminhadas pelo governo.

Uma das voluntárias do projeto dedicou alguns anos para se graduar em assistência social lá mesmo na Guiné-Bissau. Isso foi parte da estratégia para conhecer de perto os caminhos mais efetivos e os contatos dentro da estrutura governamental. 

Com a presença no bairro, a ideia é interagir com a comunidade através das crianças, podendo servir as famílias. Escolinha de futebol, alfabetização e espaço para oferecer pelo menos 100 refeições ao dia. “Com essas atividades conseguimos ter convivência com elas, conhecer as necessidades, estabelecer um relacionamento”, explica. O líder religioso do bairro autorizou a equipe do projeto a fornecer pelo menos uma refeição diária aos talibés e isso é parte fundamental do propósito do Casa Viva.

ASPECTOS CULTURAIS

Robson afirma que, pelos desafios culturais, homens, mulheres e famílias são essenciais para o trabalho. Homens muçulmanos não conversam com mulheres que não sejam suas esposas, os pais não confiam seus filhos a quem ainda não tem filhos. Portanto, o homem é ponte para tudo o que a mulher precisa fazer, desde ir ao supermercado. Mas o homem precisa da mulher para que outras mulheres locais sejam alcançadas. As crianças precisam de missionários que sejam pais e mães.

A disposição para a preparação cultural é uma prerrogativa para quem deseja viver missões em outro país, e um período de longo prazo. “Sempre seremos vistos como estrangeiros, mas se praticamos o que eles praticam em termos de vestimenta, alimentação, pudores como entender que mostrar as pernas do joelho pra baixo não é aceitável vamos conseguir lugar no meio deles”, especifica. “A cultura é uma porta escancarada, mas ainda encontramos resistência de alguns missionários para aderir por exemplo o costume de comer com a mão na mesma bacia sentados no chão”, relata e lembra que coisas que parecem estranhas ou sem importância para quem é de fora, são vitais para a comunidade local.

“Há uma liberdade de movimento para o qual só o conhecimento ou a vontade de fazer missões não é suficiente. Não precisa chegar lá pronto, mas chegar com o coração para adquirir uma nova cultura. Eles mesmos vão ensinar, corrigir as palavras que falamos errado, querem andar junto e nos ensinar”, conclui..

NECESSIDADES

Quando o projeto foi suspenso, uma parte da construção estava em andamento e será necessário continuar a obra. Além disso, com um local sem manutenção há três anos e tendo passado por incidentes com chuva, a estrutura que já existe precisará de muitos reparos. Robson conta que lá o abastecimento de água é por poço e a energia chega pelas placas solares. 

Com a viagem prevista para o período entre final de abril e o mês de  junho, por causa das incertezas da pandemia, os membros da equipe estão empenhados em levantar recurso para as passagens e a chgada lá, o que chega a R$ 10 mil por pessoa, e também em busca de parcerias e mantenedores para as despesas mensais de um missionário desse projeto, que gira em torno de R$ 7.500. “Para quem fica direto no local o custo é menor, mas nosso projeto demanda viagens, deslocamentos que somados ao que se gasta para viver, se torna um valor alto”, esclarece. 

Robson costuma ficar até quatro meses na Guiné-Bissau e retornar ao Brasil, passando por bases de Jocum e igrejas divulgando não só o desafio financeiro, mas recrutando voluntários. “Equipes de prático de ETED são bem vindas, assim como grupos de igrejas que queiram servir em missões”, informa. Qualquer pessoa pode se envolver no projeto, seja orando pela equipe e pelo trabalho com as pessoas lá ou ofertando financeiramente qualquer valor.

Você pode enviar uma oferta para o pix: 22981709629 (telefone – o mesmo número é do whatsapp para mais informações)

OS MENINOS TALIBÉS

Um grande número de crianças entre cinco e 15 anos de idade, em países como Senegal e Guiné-Bissau no continente africano, são submetidas a vida nas Daaras, que são escolas corânicas, voltadas a uma educação religiosa e  também do idioma árabe a elas, que são chamadas de Talibés, que em árabe significa “disciplina”.

O fotojornalista português Mário Cruz foi premiado por um livro chamado “Talibés: Escravos da Era Moderna”, que retrata o método em que por oito horas diariamente, as crianças Talibés são obrigadas a mendigar nas ruas, cumprindo as exigências dos “marabouts” – que seriam os mestres responsáveis pela educação.

Em alguns casos as crianças eram enviadas pelos próprios pais, que sem condições financeiras, acreditavam estar fazendo o melhor por seus filhos. O que fica escondido nas Daaras, onde o fotojornalista entrou e que corajosamente expôs é a consequência para as crianças que não conseguem obter a meta de arrecadação, que gira em torno de um dólar, que para a moeda deles é um valor alto. As crianças são agredidas, abusadas por outras crianças com o consentimento dos responsáveis. Ficam acorrentadas, dormem no chão, são expostas a péssimas condições de saúde e higiene.

Outra questão relacionada a isso é o tráfico humano, de crianças levadas de um país para o outro, o que torna praticamente impossível a criança conseguir se livrar ou sequer pedir socorro, por não conhecer nada no local.

Veja o trabalho de Mário Cruz:

https://www.dw.com/pt-002/talib%C3%A9s-os-escravos-da-era-moderna/a-19266819

Saiba sobre as crianças talibés em Guiné Bissau

https://news.un.org/pt/story/2019/05/1672351