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Projeto de oralidade é resposta aos jovens indígenas Terenas Categorias:
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Com 105 anos de evangelho e 25 anos de tradução do Novo Testamento, a etnia Terena conta agora com um projeto audiovisual para estimular a vivência do evangelho através de sua cultura oral de contar histórias.

Um projeto audiovisual de oralidade com histórias bíblicas foi a resposta que um casal de missionários deu a uma realidade preocupante entre jovens indígenas na aldeia Terena Água Branca, em Aquidauana – MS. Esta, como muitas aldeias no Brasil próximas às cidades, passou pelo processo de urbanização, acessando elementos culturais que não são os seus. O alcoolismo e o vício em drogas, por exemplo, assim como a prostituição são problemas enfrentados, especialmente pela juventude nesta aldeia. O crescente acesso à internet foi também a porta de entrada dos terenas para a pornografia, algo que também cresce na sociedade não indígena.
O evangelho chegou na aldeia Água Branca há 105 anos, a por meio de movimentos missionários iniciava o processo de tradução do Novo Testamento, que já está nas mãos dos indígenas terenas há 25 anos. A etnia Terena não tinha nenhum tipo de material que valorizasse sua tradição oral. A oralidade é um processo comum a todos os brasileiros: o aprender através da fala, das histórias contadas nas rodas de amigos ou à mesa com a família. E entre os indígenas isto é ainda mais forte, sendo que qualquer ensino torna-se mais acessível através da fala em sua língua materna.

“Por que não ter uma história bíblica de seu povo no celular ao invés de pornografia?”, pergunta Patrícia Oliveira, que com o esposo Patrick Oliveira colocou em prática uma idéia que surgiu no ano passado, durante a conferência Duo DNA, realizada pela Jocum (Jovens Com Uma Missão).

Patrick e Patrícia são missionários da Jocum Monte das Águias. Quando ainda eram solteiros, em 2014 foram alunos de ETED (Escola de Treinamento e Discipulado), e no tempo prático conheceram pelo menos dez aldeias indígenas, entre elas a Aldeia Água Branca.

Na mesma semana em que decidiram elaborar o projeto, Patrick e Patrícia ganharam de presente uma câmera semiprofissional, o que sinalizou que o desenvolvimento da iniciativa era possível. Em janeiro de 2019 foram até Aquidauana, na aldeia, reuniram os indígenas, que aceitaram a proposta, e gravaram a dramatização das histórias bíblicas O Filho Pródigo e a Mulher do Fluxo de Sangue. “Nosso objetivo era que, na língua terena, a aldeia pudesse olhar para o filho pródigo terena: o menino que deixa a aldeia, conhece o vício, perde tudo e ao decidir voltar, é recebido pelo pai. A mulher do fluxo de sangue é uma mulher terena”, relata Patrícia. Os atores são os próprios indígenas, que ficaram emocionados ao se verem atuando, e o texto foi todo na língua terena.

Para Gina, como é conhecida a terena Ginaíde Farias, o projeto traz uma oportunidade para que os jovens repensem a forma como estão vivendo. “Nos últimos dez anos as coisas mudaram muito. Pessoas que conheci quando crianças agora estão envolvidas com drogas e pornografia”, relata. Ela é filha do pastor Ladislau, pioneiro na tradução da bíblia para a língua terena e um preservador da língua entre crianças e jovens.

“Quando conheci a Jocum, automaticamente pensava que uma indígena não poderia ir tão longe da aldeia, mas eu fui e agora posso ajudar o meu povo”, comemora Gina, que foi aluna de ETED em 2011. Como missionária, ela foi ao Paraguai e Bolívia e ficou por quatro anos como obreira de base da Jocum. Agora Gina é universitária do curso de Letras, dividindo sua vida nos dias de atividades na aldeia falando em terena, e a noite no ambiente acadêmico, falando português. Como ela, cerca de 300 indígenas daquela região estão na universidade.

A LÍNGUA TERENA

A etnia Terena está espalhada em pelo menos 16 territórios diferentes no Brasil. De acordo com o site Povos Indígenas do Brasil (Instituto Socioambiental) a língua, da família Aruak está presente no dia a dia de quem se reconhece como Terena, no entanto, o uso frequente da língua varia de aldeia para aldeia.

Os terenas são considerados um povo bilíngue, pois além da língua mãe, dominam a língua de contato, que neste caso é o Português. O uso da língua como um fator de socialização não é algo recorrente aos terenas, pois eles têm orgulho de dominar o português e a relação com o que se chama de “mundo dos brancos”.

Gardênia Nascimento, em uma dissertação de pós-graduação em estudos etnolinguísticos da Universidade Federal de Monas Gerais afirma que as línguas da família Aruák estão presentes em boa parte da América Latina, como Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru, Brasil, Belize, Honduras, Guatemala e Nicarágua. São 40 línguas vivas pertencentes a família Aruák. Só no Brasil, 16 delas podem ser citadas: APURINÃ, BANÍWA DO IÇANA, BARÉ, KÁMPA, KURIPÁKO, MAXINÉRI, MEHINÁKU, PALIKÚR, PARESÍ, SALUMÃ, TARIÁNA, TERENA, WAPIXANA, WAREKÉNA, WAURÁ, YAWALAPITI.