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Documentário denuncia situação da Educação nas comunidades ribeirinhas Categorias:
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Depois de viagens, conversas, edições e ajustes, a jornalista Isabela Ribeiro terá o lançamento do trabalho para 2021, possivelmente no início do segundo semestre. Para além da informação, esta deve ser uma ferramenta de transformação: “O que não é comunicado não pode ser ouvido, e o que não é ouvido não tem resposta”.

Por Larissa MazalotiJocum Brasil

Grandes causas nascem de oportunidades. Prova disso é o documentário Um Norte para a Educação, em fase final, produzido pela jornalista e missionária da Jocum (Jocum Foz), Isabela Ribeiro. Em 2015, convidada por um grupo de educadores e missionários de Curitiba, ela foi até comunidades ribeirinhas no Pará e Amapá, como fotógrafa e videomaker. A princípio, o objetivo era registrar as atividades de capacitação de professores oferecidas pela equipe aos moradores locais, mas o coração da estudante de jornalismo logo identificou a possibilidade de realizar o TCC da faculdade a partir daquela realidade.

E foi justamente o que antes era desconhecido nesta realidade que despertou o desejo de que mais pessoas soubessem que o Norte era muito mais do que floresta, que há um contexto cheio de necessidades e potenciais adormecidos. “Chegando lá descobri como funcionava ou como não funcionava o sistema educacional. Uma escola fechada por falta de investimento e, nas abertas, a constante falta de alguma coisa”, conta Isabela ao relatar problemas que afetam condições básicas: merenda insuficiente, distância e falta de transporte, riscos à segurança e inexistência de espaço físico para diversas atividades que vão além da sala de aula.

Isabela explica que em cada comunidade o variável número de crianças em cada faixa etária e a dificuldade de encontrar professores para cada turma faz com que o ensino seja multisseriado: um mesmo professor com alunos de diferentes anos escolares na mesma sala de aula. “Algumas escolas não têm Ensino Médio, ou nem mesmo Fundamental 2 (5º a 9º ano), o que torna ainda mais difícil para a maioria concluir os estudos. Isso acaba proporcionando um ambiente mais propício para situações como gravidez na adolescência ou simplesmente a falta de qualquer perspectiva de futuro”, constata.

UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA

O documentário Um Norte para a Educação tem a característica que Isabela imprime em tudo o que faz quando se trata de comunicação: das voz às histórias. Quem conta sobre a realidade é mais que a lente da câmera ou o roteiro, mas os personagens sendo os próprios narradores. Uma dessas pessoas foi Sara, uma adolescente de 15 anos que já havia passado por relacionamentos, abortos e a gravidez que gerou o filho que ela tem atualmente. Para meninas como essa, o fato de Isabela ter, na época, 22 anos de idade e não ser casada ou, pelo menos, não ter filhos, causava estranheza. 

Essa distorção da realidade não se tratava apenas de uma questão educacional. Para a jornalista, também eram responsáveis a falta de acesso à saúde, graves questões jurídicas em que muitos dos moradores locais eram enganados e injustiçados e outros problemas nas demais áreas de um povo que vive em cima do rio. “As lacunas na educação afetam todas as áreas da vida daquelas pessoas. Os ribeirinhos acabam trabalhando com o que tem disponível lá..açaí, pesca, palmito, caça, etc. Não há outra opção. Às vezes eles querem ser outra coisa, fazer outra coisa, e a educação poderia dar a eles essa perspectiva”, comenta.

COMO AS COISAS ESTÃO

Foram três viagens a estas comunidades, em diferentes localidades e retornando onde já havia passado. Isabela, que ao concluir o TCC sabia que podia ir além, resolveu dar continuidade ao documentário, aproveitando o que já havia sido produzido, mas  observando como estava a vida daquelas pessoas que havia conhecido. Foi assim que soube de um rapaz que concluiu o Ensino Médio na Ilha do Capim e fez três faculdades, sendo que ao estudar Enfermagem, prepara-se para tentar um vestibular para Medicina. Segundo Isabela, para viver essa realidade ele agora mora em Belém, em uma comunidade de periferia considerada uma das mais perigosas da capital do Pará.  

Sara, uma das adolescentes, e já citada nesta matéria, parou de estudar. “Da última vez que soube dela, a necessidade de trabalhar foi maior e ela parou de estudar. Como acompanhante da filha de um político e morando com essa família, trabalha o dia todo”, conta. Isabela diz que a menina parecia vulnerável, estava envolvida em conversas com um homem bem mais velho de São Paulo, recebendo propostas de ter as contas pagas em troca de morar com ele. “Claramente é uma versão velada de tráfico humano. Falei com ela a respeito, mas não dá pra saber o quanto entendeu. Graças a Deus ela não foi para São Paulo. Mas está em um relacionamento com outro homem, também mais velho”, contou.

Outra moradora da comunidade ribeirinha foi Jadilene. “Tive esperança de que ela romperia esse ciclo de desistência, mas, apesar de seus esforços nos estudos, engravidou do namorado aos 18 anos de idade e parou de estudar”, narra a jornalista que admite saber que não se trata apenas da Educação, mas que, se isso funcionasse, outras coisas poderiam também ser resolvidas.

DOCUMENTÁRIO PRA QUE?

“O que não é comunicado não pode ser ouvido, e o que não é ouvido não tem resposta”. Essa é uma frase que poderia estar nos facebook da vida, mas é um lema na vida da Isabela. É assim que ela ensina por onde passa e é isso que ela traz para a prática com o documentário, o qual tem um tom de denúncia que vai além da informação ou narrativa apenas. 

Ela lembra que no início tinha a ilusão de salvar os ribeirinhos da falta de Educação de qualidade, mas entende que só o documentário não basta. “Ainda vejo como um grande facilitador para que as coisas melhorem, porque é uma situação pouco discutida, pouco conhecida”, enfatiza a respeito da abordagem que a grande mídia costuma fazer sobre a região Norte do Brasil. Ela avalia que normalmente é abordado um assunto isolado, como economia ou ecologia, e até educação, mas não a situação como um todo e ainda, com pouca frequência. “O Sul nem sabe como funciona a Amazônia. Já entrevistei sulistas que pensavam que no Norte só existe floresta e indígenas. Eu também achava, até ir pra lá através da Jocum em 2010 e me apaixonar pela diversidade, pelas pessoas, pela cultura”, alega.

Para Isabela, o documentário deve servir de instrumento para despertar as pessoas para a educação como uma ferramenta de transformação do ser humano como um todo e, inclusive, da vida espiritual. Após a primeira finalização, foi em 2016 que ela decidiu retomar o trabalho. De acordo com ela, o não lançamento na época se deu por entender que poderia ir além de um material para ficar na gaveta ou em um HD de computador.  Através de um seminário do GNI (Grassroots News International) no Pará, Isabela aproveitou a equipe, na qual a irmã, também jornalista, Ananda Ribeiro Gasparetto, fez parte, para dar continuidade e amarrar informações e outros detalhes que faltavam. O trabalho em família se estende até o Canadá, onde o irmão de Isabela,  Guilherme Morilha Ribeiro, é cineasta e está terminando as edições. 

O documentário Um Norte para a Educação deve ser lançado no início do segundo semestre depois de muito trabalho e até de momentos difíceis, de perda de pessoas queridas como um dos personagens, Antônio Medeiros, ribeirinho e dono de uma padaria, que foi vítima da COVID-19, e da Jaque, missionária que fez parte do grupo de educadores que levou Isabela e deu início a ideia do projeto. “Minha intenção é ir até lá (comunidades ribeirinhas), e mostrar do que eles fizeram parte, mas com a pandemia e inclusive perdas de pessoas do projeto, é possível que aconteça primeiro um evento online”, anuncia e garante que não desiste da ideia de fazer o material chegar nas pessoas certas.

Nas redes sociais é possível encontrar mais informações sobre o projeto, inclusive uma Vakinha online para levantamento de recursos para a sua finalização. Siga os perfis e contribua. Seja parte de algo que pode mudar uma realidade.

Veja as fotos do arquivo do projeto na galeria de imagens!

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