Menu

Alguém é brasileiro aqui? Categorias:
Artigos

Alguém é brasileiro aqui?

Estávamos orando pelas eleições e pelo Brasil. A reunião estava festiva, também pudera, com o “pink” que colocamos na parede ninguém mais fica parado no culto aqui. Num dado momento a Francisca pergunta: Tem algum brasileiro para vir orar pelo país aqui no microfone? Era brincadeira claro, porque a maioria de nós é brasileira. Olhei ao redor, vi alguns europeus, dois suíços, um sueco, uma holandesa, alguns americanos. Mas a maioria esmagadora eram rostos morenos, olhos puxados, narizes negróides, cabelos encaracolados, quadris arredondados característicos desta nossa salada genética.

Vai ser engraçado se algum estrangeiro for como filho adotivo da terra, pensei. Momentos em que se pedem voluntários são sempre constrangedores nesta nossa cultura de tímidos extrovertidos. Ou vêem tantos que forma um bolo no microfone, ou não vem ninguém por um tempão.

No silêncio enquanto não ia ninguém, porque esta era uma daquelas vezes, eu olhavas as faces e pensava no porque às vezes a gente demora tanto, por preguiça com certeza, a atender um chamado assim. Aí se levantou o Zé Valdo. Rapaz jovem, está aqui estudando com a esposa e os três filhos. Enquando ele ia se aproximando do microfone o povo ia gritando, mais ainda quando se levantou a Vanilda e foi atrás dele. Vanilda é do Espírito Santo, extremamente tímida e magrinha como aquelas modelos que se alimentam de alface e gelo, e não é a esposa do Zé Valdo. Ela é jocumeira de Maués e já está na Amazônia há muitos e muitos anos.

Ela se posiciona atrás dele, culturalmente apropriada. O Zé Valdo toma o microfone e começa a falar e no começo ninguém sabe que língua ele está falando. Mas depois de alguns segundos se reconhece que ele começou em português explicando. “-Vou orar na minha língua e a Vanilda vai traduzir.” Apesar de nosso culto aqui sempre ter um ar irreverente, Zé Valdo mantém a solenidade típica de seu povo e começa a orar em Sateré-Mawé, sua língua materna, uma língua verdadeiramente brasileira, de origem Tupi-Guarani. A oração subiu aos céus, traduzida pela Vanilda, que lutou muitos anos para aprender aquela língua. Uma oração feita por um rapaz índio Sateré, jocumeiro, aluno da Universidade das Nações, e verdadeiramente brasileiro.

  • Ore pelos crentes Sateré que são mais de três mil.
  • Ore por Suzuki e Márcia que lutam para implantar um movimento missionário indígena entre os Sateré.
  • Ore por Chagas e Celina e Zé Valdo e família jocumeiros Sateré.