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Estar na moda é aprender algo novo Categorias:
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Projeto Valfenda no Distrito Federal é ferramenta de instrumentalização para mulheres através do corte e costura. Moda, sustentabilidade, ética e valor pessoal são aspectos abordados nesta iniciativa da Jocum 360.

Iniciativas são instrumentos poderosos de mudança. Quando algo novo surge, o mundo de alguém muda. Prova disso é o Valfenda. Valfenda? Sim! Este foi o nome escolhido para um projeto que mostra que “estar na moda” vai muito além do glamour de um cenário distante de vidas “normais” de meninas adolescentes, mulheres trabalhadoras, mães e donas de casa.

Valfenda, na obra do escritor J. R. R. Tolkien, popularizada pelos filmes O Senhor dos Anéis, é uma cidade fictícia. O escritor britânico cita a cidade em diversas de suas histórias e é caracterizada pelo difícil acesso, e pelas barreiras que personagens precisam enfrentar para entrar. 

De acordo com a coordenadora do projeto Valfenda, Isabelle Esmeraldo que é gestora em saúde pública e uma das responsáveis pela ONG JOCUM 360 – Jovens Com uma Missão a moda é uma plataforma com propósitos e a meta é instrumentalizar mulheres, despertar habilidades escondidas, incentivar a autoestima e trabalhar a ética. “Na ficção, quando se adentra à Valfenda, os olhos são presenteados por uma beleza sem-par. Na vida real, também”, explica.

Falando em vida real, em regiões de vulnerabilidade social o Valfenda reúne mulheres em encontros que promovem a sustentabilidade e incentivam a autoestima, a ética e o empreendedorismo, provando que a moda vai muito além do “corte e costura”. O projeto que começou em 2017, na cidade Estrutural, no Distrito Federal.  “As primeiras oficinas renderam muitos resultados e impactos positivos, não havia como não as repetir. As integrantes começaram a oficina de uma maneira e terminaram de outra: exalando amor-próprio”, compartilha Isabelle.

Na segunda e mais recente edição, as oficinas aconteceram na Região Administrativa do Distrito Federal, onde há altos índices de vulnerabilidade. O local escolhido para a 2ª edição do projeto é o Areal, setor originado de uma invasão, reconhecido em 1989 e que possui a menor renda da RA de Águas Claras. “Nesta edição, a sustentabilidade também está em foco”, explica a gestora. O projeto proporciona um ambiente de oportunidade e multiplicação. “Elas descobrem a força que têm e multiplicam isso, influenciando e ajudando umas às outras”, complementa.

“O Valfenda vem para revelar que a moda também é uma porta de entrada para a valorização de outros princípios.”, complementa Isabelle. Para abrigar todos esses objetivos, o Valfenda é dividido por módulos com intuitos diferentes. O pensamento sustentável, uma nova abordagem desta edição, é explorado, por exemplo, pelo upcycling. A técnica transforma materiais velhos ou descartáveis em algo novo, útil e de valor. Já a autoestima é trabalhada a partir das atividades de maquiagem e fotografia, quando a turma protagoniza um ensaio de foto profissional. 

No estilo grand finale, o projeto realiza evento em que as participantes desfilam suas próprias criações. Todo o material utilizado é disponibilizado pela organização. 

Os encontros do Valfenda neste ano tiveram início com a chegada do Mês Internacional da Mulher, celebrado em março, e encerraram em 14 de maio. No último domingo, 23 de junho aconteceu o evento esperado por todos os envolvidos. Um desfile e uma exposição fotográfica demonstram os resultados do trabalho e segundo Isabelle foi emocionante.

O desfile teve como tema “Raízes”. Foram confeccionadas plaquinhas no formato de bolsas em que estavam estampadas palavras relacionadas à verdade e raízes como: coragem, representatividade, resiliência, gratidão. “Acreditamos que essas mulheres vão carregar essas raízes a partir do Valfenda.

O projeto é apresentado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Governo do DF.

A coordenadora Isabelle está estudando Design de Moda e cursa MBA em Direção Criativa em Moda, e batendo de porta em porta na região, convocou diferentes perfis de alunas que formaram a turma de 17 mulheres da Oficina Básica de Moda. Ela contou com uma equipe de 5 instrutoras. 

Isabelle conta que buscava uma forma de conciliar sua formação em gestão da saúde e a moda. “Eu entendi que através da moda poderia promover a informação sobre a saúde emocional e física da mulher”, explica.

Ela considera fundamental para a mulher, a compreensão de como seu corpo funciona, qual é a estrutura dela, como é o formato do rosto e a partir disso usar a roupa e a maquiagem a seu favor. “Não existe uma padrão de beleza, mas por falta de informação não conseguimos valorizar nosso corpo e rosto e isso faz diferença na vida da mulher”, esclarece. 

Isabelle escreveu o projeto Valfenda durante um curso de liderança na Jocum Centro de Capacitação de Líderes, conseguindo organizar ideias que já tinha e que agora saíram do papel com as duas edições realizadas. “Estou muito feliz com os resultado, porque entendi que posso utilizar a moda na valorização do indivíduo, na transformação social, e no acolhimento da mulher com todas as suas dificuldades”, comemora.

Edjane Pereira da Silva está na moda

Edjane Pereira da Silva tem 32 anos, é casada, e tem 3 filhos. As atividades de mãe e dona de casa agora se misturam ao início de uma vida profissional. “Agora faço consertos de roupa, confecciono bolsa de TNT por encomenda, entre outros serviços de costura”, conta e garante que já está ganhando seu dinheirinho com este trabalho.

“Eu não sabia nada de corte e costura”, afirma Edjane. Ela vê o Valfenda como a oportunidade de crescimento e capacitação para o mercado de trabalho. “As mulheres ainda enfrentam a antiga dificuldade de conseguir emprego. ainda tem preconceito”, comenta. 

Edjane elogia a coordenação do projeto e seus professores e diz que deseja que outras mulheres tenham a mesma chance. “E espero de coração  que a Isabelle não pare com esse projeto que ele continue levando pra essas mulheres que somos força e sabedoria de correr atrás de seus objetivos de suas verdadeira raízes, assim como abrir nossos olhos pra realidade de cada uma de nós”, finaliza. 

A moda de Mônica é ser uma trabalhadora

Mônica Luz Dias da Silva tem 33 anos e para ela, o Valfenda foi uma experiência nova, e que poderia durar mais tempo, pois, segundo ela, há muito para aprender. “Neste momento não vou conseguir praticar o que aprendi de corte e costura, mas maquiagem posso sim fazer em alguma cliente”, afirma. 

Monica tem três filhos, é casada e já trabalhou em um salão de beleza de outra pessoa, teve um bazar e hoje tem um imóvel alugado em que realiza trabalhos como cabeleireira. “Eu não tenho máquina de costura, vou tentar comprar uma, mesmo que seja usada para poder praticar o que aprendi. Pago R$ 300 de aluguel para poder atender como cabeleireira”, conta .