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ENTREVISTA: Peter Thomas fala do trabalho com desenvolvimento comunitário Categorias:
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Ele veio da Inglaterra, aprendeu falar português com meninos de rua e coordena projetos de restauração e transformação social através da Jocum Fortaleza

Aquiraz é uma cidade metropolitana e fica distante 35 quilômetros da capital do Ceará. Co

m pouco mais de 70 mil habitantes, este é o endereço da Jocum Fortaleza desde 1991 e suas atividades estão distribuídas em duas propriedades. Desde o começo Jocum Fortaleza teve um envolvimento significativo com a comunidade local. A própria instalação da base se deu a partir de uma mobilização de 300 igrejas.

Desta forma, atualmente sob a coordenação do casal Peter e Selma Thomas, esta base, além de treinar e enviar pessoas para outras nações, tem um foco bem claro na transformação social. Leia a entrevista com Peter Thomas, um inglês que era professor de matemática e educação física em escola pública, formado em Engenharia Bioquímica.

 

Jocum Brasil: Peter, como você veio parar no Brasil e como é que foi essa paixão que fez você ficar?

Peter: Sempre tive o sonho de abrir um orfanato em um país em desenvolvimento. Quando pesquisei sobre isso no mundo todo, apenas a Jocum me respondeu. Eu não sabia o que era Jocum, mas soube de uma escola chamada Crianças em Risco. No entanto, soube que precisava fazer a ETED primeiro. Então eu fiz! Meu prático foi no Amazonas. Foi na ETED durante um impacto de Carnaval que conheci a Selma, que hoje é minha esposa e mãe de meus dois filhos! Aprendi falar português nos cinco meses de minha ETED, mas cheguei sem falar uma palavra sequer.

Jocum Brasil: Qual foi o impacto que você teve como estrangeiro ao chegar da Inglaterra?

Peter: Quando vim ao Brasil eu estava perdido. Foi no Brasil que Deus me deu restauração, então eu não tive um impacto, mesmo sem falar a língua eu não me sentia estrangeiro. Eu me apaixonei pelo Brasil e isso é até hoje. Sei que sou um estrangeiro, mas não me sinto um e até sou eu que falo como um brasileiro quando outros estrangeiros chegam aqui.

Jocum Brasil: E como foi depois da ETED?

Peter: Quando terminei o prático, Selma e eu declaramos amizade especial e logo casamos. Então fizemos a escola Crianças em Risco em um modo noturno. Assumimos a liderança do projeto Casa de Meu Pai que existia na Jocum fortaleza desde o início, e passamos a trabalhar com restauração de meninos de rua, menores infratores, adolescentes grávidas. E algo que fizemos foi levar uma equipe de prático da ETED para uma favela bem no meio da cidade. Ficamos dois meses dentro da favela. Visitamos os meninos que foram pra FEBEM que se diz uma sistema educacional, mas que não educa ninguém.  E também descobrimos como abrir uma casa de restauração, e então começamos a tirar meninos das ruas. Esse local é onde começa a BR 166, que vai até o Rio de Janeiro e tem prostituição de ponta a ponta.

Jocum Brasil: Como foi esse trabalho com meninos de rua?

Peter: Nos mudamos para morar onde acontecia o projeto Casa de Meu Pai e começamos a tirar os meninos da rua. Meu filho nasceu lá, rodamos uma ETED e uma escola noturna para alcançar as pessoas que estavam perto de nós. Estávamos onde era preciso esticar o braço, tocar na ferida e não recuar. Dos 27 meninos que estavam conosco, 21 estão mortos. Mas os que vivem, estã bem encaminhados: um na Suíça, outro é somelier em uma rede conhecida de restaurantes, um vai casar.

Jocum Brasil: E como chegaram à liderança da base?

Peter: Quando recebemos liberação para abrir uma segunda base em Fortaleza, a base pioneira estava com dificuldades e entendemos que deveríamos assumir e cuidar da base que tinha começado tudo. Selma e eu entendemos que nosso chamado para restauração não era apenas restauração de meninos de rua, mas era restauração de tudo o que precisasse disso. A base naquele momento precisava de restauração.  

Jocum Brasil: E como está hoje o trabalho da Jocum Fortaleza?

Peter: Nosso projeto é fortalecer a igreja e para isso, entendemos que a família é um ponto principal. Por isso hoje temos a Escola Ministerial da Família em nossa base. Acreditamos que se houver pessoas preparadas para lidar com as famílias não haverá tantos meninos para serem tirados das ruas. E o trabalho de desenvolvimento comunitários que é um pilar nosso, é o que pregamos e vivemos. Nossa base tem o projetos de reforço escolar através do Mão Amiga, que atende também as famílias das crianças e adolescentes. E temos uma parceria muito boa com a prefeitura. Somos dos poucos projetos da região com documentação em dia, que não dá problemas e que conquistou o poder público pela influência na comunidade.

Temos o projeto Homens Nobres com meninos, para passar valores a eles, prepará-los para quando chegaram em ETEDs de outras bases não estarem com problemas com a paternidade de Deus, por exemplo.

Temo uma escola de futebol e o time Boanerges que disputa todo tipo de campeonato e está conhecido pelo bom desempenho. Já tem quatro anos e meio que esse projeto atende 300 meninos de 11 a 20 anos de idade. Meninos que começaram no projeto, hoje já estão bem maduros e tocam o trabalho com o time do sub 20 sozinhos. Eu apenas sou um coordenador, mas eles é quem estão a frente.

Jocum Brasil: O que você pode dizer para um jovem que está começando em missões ou em um projeto em outras áreas?

Peter: Tem uma questão que atrapalha nossos jovens no mundo inteiro: o interesse maior é em fazer coisas do que de fato alcançar um objetivo. O que fazemos tem que estar ligado com o motivo pelo qual nascemos e estamos nesse mundo. Se apenas focamos no que precisa ser feito, isso logo acaba porque objetivos não foram alcançados porque não se sabe o que quer. Se uma pessoa vai para qulquer lugar, ela precisa impactar com quem ele é e não com o que faz apenas.

Não dá para ter vergonha de parar uma estratégia para começar outra, porque não é uma derrota, mas pode ser uma vitória com sabor diferente, uma nova vitória. Um jovem nunca pode pensar em fazer algo pelo que aquilo pode dar a ele como benefício ou reconhecimento, mas pelo objetivo que quer alcançar.