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Uma jornada no campo masculino entre Henris, Zés e Déboras – Uma palavra às mulheres

Como homens estatísticamente lêem menos que mulheres, (o que será que é isto? Estão contando rótulos de produtos do supermercado, listas de compras, ou será que fazemos melhor uso do pouquíssimo tempo que temos?) com um título destes estaremos totalmente à vontade aqui para fofocarmos no nosso clube da Luluzinha.

Estou começando agora a exercer uma liderança nacional para a missão e me sinto engatinhando em um terreno quase que totalmente masculino. É uma sensação estranha, é como estar fora de seu país tentando falar uma língua estrangeira, ou estar como uma criança nadando numa piscina de bolinhas de plástico (por que elas gostam tanto daquilo?). Se usa sinais corporais que poderão ser totalmente mal-interpretados, não existe risadinhas de cumplicidade nem idéias implícitas, suas idéias e motivações são denudadas e feitas em pedaços o tempo todo. Para chegar aqui foram anos andando neste mesmo terreno, (até aí, nada de novo no front), por conta própria, sem ter a consciência do que estava acontecendo. Mas agora é oficial. O saber-se oficialmente líder tem um peso horrível. É quase um aleijão. Se antes me sentia adequada para ser ninguém, no entanto seguir os passos de Deus em qualquer terreno, agora tenho o rótulo oficial e irônicamente toda a segurança e sensação de certeza se foi. Não sei mais quem sou. Serei o que eles esperam que eu seja? Ou serei eu, eu mesma, como sempre fui, apenas agora oficialmente em uma função da qual se espera sei lá o quê? (Creio que ninguém sabe ao certo, o que se espera desta função, só se sabe no fundo, que o quer que seja que acontecer, vai estar sempre aquém das expectativas, vai ser sempre menos, e sempre inadequado. Este é um problema que brasileiro tem em relação a liderança em geral, mas deixa isto pra outro dia.)

Constato num momento de introspecção que não mudei. Sou eu aqui, comigo mesma, ouvindo ou não a Deus, andando no meu dia a dia ao redor de minha casa, da base, das pessoas, obreiros e pastores, como sempre andei, não emagreci nem engordei, não fiquei mais bonita (quem dera), nem mais feia (ainda bem), nem mais espiritual, nem melhor nem pior por causa do cargo oficial. Ainda sou eu mesma no meu dia a dia com meus filhos que a medida que crescem me fazem ter mais consciência da minha insuficiência e necessidade desesperada de Deus.

Dentro de sua própria casa não existe falsa religião. Ou você é ou não é e seus filhos sabem. Eles sabem quando você erra com eles, e te cobram se você não se arrepende. Eles te conhecem por dentro e por fora, sabem o que te estressa, e o que te acalma, te sabem em seus maus e bons momentos. Deus, como é que eu, hoje neste púlpito, ontem pequei contra minha filhinha, me irritando com a criancisse dela, me perdoa e me envolve em sua graça. Com mãe é assim, não tem performance espetacular em um dia no shopping, ou no parquinho, vantagem que os pais as vezes levam. Tem um dia a dia intenso de cobranças ações e reações, todas esmiuçadas nos detalhes pelos filhos, marido e sua própria consciência.

É esta consciência que trago para dentro deste papel de líder que agora exerço. Consciência da minha inadequação e incapacidade. O cargo não sou eu. Não sou eu aquela que prega, que decide, que se reúne com outros executivos, para executar execuções religiosas. Eu sou aquela que meus filhos conhecem. Aquela que conversou com eles ontem à noite, apesar do cansaço, ou que apenas escolheu ignorá-los e se refugiar num livro.

Henri Neweun é uma jóia do pensamento cristão do século vinte. Lê-lo não é só um exercício de espiritualidade mas também um ato de bom senso. Ele não só conseguiu teorizar e ensinar um cristianismo relevante no meio deste mundo pós-moderno sem se contaminar, mas também viveu de acordo com ele. Foi professor em Harvard e Notre Dame, escritor de sucesso, conferencista. Um dia se descobriu embriagado por esta “persona” bem sucedida, e decidiu se afastar e se dedicar ao tratamento de deficientes mentais numa comunidade afastada do mundo. Não punindo a si mesmo, mas seguindo a clara e singela voz de Deus no seu interior. No seu livro: “O líder do século XXI” ele faz a diferença entre a performance religiosa e o verdadeiro ser espiritual. Para resumir o livro em poucas palavras ele teve que se tornar gente, (coisa que só conseguiu entre os deficiente mentais) descer do pedestal de professor de Harvard, autor de vários livros para descobrir de novo a relevância de Jesus e do evangelho na sua própria vida.

Enquanto lia pensava sobre a diferença entre a cultura masculina e a feminina. O homem pode com facilidade se embriagar pela sua própria persona o tempo todo. A mulher não tem como, a não ser que ela se torna dançarina de axé, neste caso ela deixa de ser uma mulher completa para se encolher ao tamanho de sua anatomia traseira, tornando-se apenas um “derrier” bonito. Veja a Zélia, (uma paixão), ministra, economista, professora, mas será eternamente lembrada como a mulher carentes das paixões arrojadas.

A Marisa Monte no disco tribalistas se chamou de Zé, numa das músicas em que explica o porquê e a natureza do grupo. Arnaldo, Carlinhos e Zé. Talvez ela se sente masculina, brilhante musicista que é, compositora, arranjadora, num mundo onde raras mulheres se atrevem a entrar. A Marisa virou o Zé. Foi a resposta dela a esta cobrança cultural desmedida. Me deixem em paz, eu sou compositora, não importa meus namoros, quem eu beijo, se eu sei cozinhar ou só fritar ovo, eu sou o Zé. Posição cômoda. Mas eu, não acho que devo virar o Zé também. Aliás, me comprometo aqui com vocês a de maneira nenhuma virar o Zé. Rejeito o tornar-me Zé, o masculinizar-me como uma necessidade, para performar uma liderança religiosa.

Como Henri Neweun quero estar sempre diante de mim mesma. Não serei a “persona” serei eu mesma, com a consciência intensa de minha necessidade do Criador sempre diante de mim. Desculpe-me Henri mas isto é prerrogativa do ser mulher e ser mãe. Não preciso dos deficientes mentais para chegar a este estado de consciência.

Mas não quero tampouco ser uma Débora,(Jz 4 e 5) que profetizou ressentida para Baraque uma vitória que não lhe traria glória. (“Certamente irei contigo, porém não será tua a honra da jornada que empreenderes; pois à mão de uma mulher o SENHOR venderá a Sísera.” Jz 4:9) Por quê ela fez isto? Não podia continuar servindo, anônima mãe de todos, e deixar o pobre do Baraque ou qualquer outro homem, ganhar uma glóriazinha? Algum ressentimento ela tinha contra a raça masculina para agir daquele jeito. Imagine, uma juíza, líder principal de uma nação mais machista do que o Casseta e Planeta. Ela não agüentou o tranco. Azedou. E na primeira oportunidade, tirou dos homens uma glória que lhes caberia. E foi a mão de uma mulher, Jael, que matou o rei com uma estaca na cabeça e que, segundo Débora, o viu estrebuchar entre suas pernas… Que cena triste e grosseira esta, o homem morrendo no sono, depois de ter sido falsamente bem recebido, e a mulher Jael, a carregar consigo esta imagem, que depois virou cântico na boca de todo Israel. O resultado desta guerra dos sexos foi um Israel afastado do Senhor. (O povo, porém fez o que era mal diante do Senhor). Débora ganhou a batalha mas perdeu a guerra agiu com revanchismo e orgulho e perdeu sua oportunidade de mãe de educar Israel.

Muitas mulheres líderes se endurecem, se ressentem do machismo e do preconceito com que são tratadas e perdem a sua natureza feminina humilde e simples. E ao perder isto perdem a própria razão porque Deus a chamou para liderança. Deus escolhe mulheres para lugares que precisam de mãe, que precisam de unidade, que precisam de um carinho extra, de um coração extra, de colo, de um peito que amamenta, (não literalmente por favor), uma perspectiva diferente. Por mais que associemos a competência com a dimensão cultural masculina, a liderança que nós mulheres podemos exercer vai trazer sempre consigo a dimensão feminina, o bordado, o estofado colorido, a arte, o bolo, o carinho de mãe, ou que o que quer que isto represente. A não ser que nos tornemos um Zé, versão caricata de homem, ou uma Débora, vitoriosa mais amargurada.

Quanto a mim como já disse, não serei Zé, nem Débora. Meu coração está vasculhado, varrido, ausente de ressentimentos, e quando os houver vou me expor, e perdoar. Não quero provar nada a ninguém. Nem aos homens nem às mulheres. Sigo meu caminho como Henri Neweun depois de sua experiência na Arca, pensando que o século XXI precisa mesmo é de líderes que saibam amar.