Quero puxar um assunto interessante o de líderes servos, ou melhor dizendo servos líderes, porque existe uma diferença vital entre estas duas expressões.
Quando cheguei na Jocum absorvi rápido a “liderancite” de que sofria a missão. Líder disto, líder daquilo, líder das cadeiras, líder das vassouras, líder do evangelismo, líder do discipulado do evangelismo, etc.
Esta liderancite na sua forma crônica não causa maiores danos à organização que padece dela. Tem o efeito de estimular visão, criar iniciativas e gerar espaço para que lideranças genuínas cresçam num ambiente familiar e seguro, para quem sabe, depois ousar passos largos distante do ninho em que foram geradas. Mas na sua forma aguda, esta doença causa muitos danos. Na cultura brasileira a manifestação é sempre aguda. Aguda, agudíssima se torna esta doença em terras brasileiras, a não ser que tratemos de mudar nossa visão de mundo. Infelizmente, estou segura disto. Não há como nesta cultura na qual estamos imersos ficarmos isentos dos efeitos fatais desta doença: a liderancite aguda.
Me desculpem os líderes, não se ofendam, mas falando por experiência própria, ser líder não é nem um pouco legal. É um peso, na verdade. O próprio Paulo é quem fala também com certeza por experiência própria que ensinar outros não é uma tarefa “grandes-coisa”:

“Meus irmãos, não sejais muitos de vós mestres, sabendo que receberemos um juízo mais severo.”
Tiago 3:1

Se bem que ele tenta estimular os outros e dizer que se alguém deseja o ministério, traduzido como “episcopado”, deseja uma obra excelente. (ITim 3:1). Bom, vai entender!. É bom, claro porque representa ser uma espécie de cooperador de Deus em sua obra aqui na terra, ter liberdade para sonhar um grande sonho de Deus e colocá-lo em prática, mas é ruim porque representa estar debaixo de um peso disgramado.
Queixas à parte, como eu ia dizendo nossa cultura não nos permite uma forma “light” da liderancite. Vivemos numa cultura verticalizada. Trocando em miúdos vivemos naquele mundo greco-latino-católico-romano que divide a humanidade em castas hierárquicas como na Índia. Nível 1, nível 2, nível 3… Estamos todos inseridos numa pirâmide humana maluca, uns estão em cima da pirâmide, outros embaixo. Não vou ficar entrando em detalhes agora, talvez outro dia quando você estiver com menos preguiça, pode ler meu livro “É preciso ter raça, Um país em busca de sua identidade” no capítulo “Comandante, capitão, tio, brother, camarada”, (soou familiar, hein?! Te prometo Marisa Monte e Chico Buarque também no rolo profético do livro :-]] sobre a nossa perspectiva cultural de liderança e a “correção” bíblica que devemos aplicar a ela.
E por falar em música do mundo o Caetano expressou bem a distorção cultural da qual sofremos:

“Será que será, que será, que será,que nunca faremos
senão confirmara incompetência da América Católica
que sempre precisará de ridículos tiranos?”
Podres Poderes – Caetano Veloso

Estamos na América Católica presos a conceitos hierárquicos medievais que nos fazem nos ver inseridos nestas castas piramidais, e que tornam todas as nossas relações humanas em relações verticais, seja para cima na pirâmide, ou para baixo.
Seria demorado tentar explicar todas as implicações desta visão de mundo equivocada, deixo isto para o livro, e para {plim plim!} o curso de “Estudos da Cultura Brasileira”, ou “HIS Core Course” o curso fundamental da Faculdade de Ciências Humanas que vamos ter aqui no ano que vem…
Mas falando em português claro aqui e agora: Acreditando nisto, vendo o mundo desta maneira, acreditamos numa mentira diabólica e não bíblica. A liderancite neste contexto se torna uma doença gravíssima, aguda, e que conduz ao sufocamento e à paralisia gradual até a morte qualquer organização.
Não há maiores nem menores no reino de Deus. Não existem castas nem sociais nem espirituais no reino. Acorda cara! Liderança não torna ninguém maior nem melhor que ninguém. Liderança no sentido bíblico é uma mera função que alguns indivíduos exercem numa área ou noutra para tornar o reino de Deus mais efetivo e praticável. Este pessoal aí que exerce esta função não está nem acima nem abaixo de ninguém na pirâmide. Por quê? Oi, não notou ainda? Não existe pirâmide!! O mundo de Deus, a realidade descrita por Deus na Palavra é uma realidade Horizontal. Estamos todos no mesmo nível!
Por isto você por definição nunca pode ser um líder servo. Porque sua identidade em Deus não é de líder. Líder, pastor, apóstolo, profeta seja lá o que seja são dons para serviço que recebemos e não medalhas para se colocar no peito, títulos para serem usados, carteirinhas de identidade para serem apresentadas. Por isto que o pai terreno de nossa missão: o Loren Cuningham considerado pelo Peter Wagner como um dos únicos, senão o único apóstolo de nível mundial que existe no mundo hoje, não usa nem o título de pastor. Ele é para todos nós, desde o jocumeirinho mais novo recém saído da ETED, até o jocumeirão mais experientão, simplesmente o Loren.
Se você ainda está nesta de basear sua identidade na função que exerce na Jocum ou no Reino, sai desta cara, que tal mal à beça. Diga pra você mesmo: xô, xô, apaga, deleta, sai, corta esta mentira sobre a “importância” de ser um líder. Sai líder deste servo!! Você não é líder coisa nenhuma é um servo igual a qualquer um neste mundo horizontal em que vivemos. Servo, servinho, servão, você é um pobre escravo como outro qualquer, todos ao seu redor tem tanto valor quanto você, e o único “upgrade” possível que você vai receber um dia, é o upgrade da morte! Morreu, pronto, upgrade automático. E trata de servir muito bem e com muita humildade e carinho os que estão ao seu redor senão outros servirão mais e melhor! Líderes ou servos? Servos cara, mil vezes seja você, pastor, profeta, apóstolo, líder nacional das vassouras e cadeiras, líder internacional de coisa nenhuma…
Bye, com esta digo tchau e bença, ósculos e abraços santos.