O Pobre e o Silêncio Categorias:
Um homem viaja de madrugada. Eram mais ou menos 05:20, o sol timidamente acordava, o frio e o sopro da noite o visitavam. Descalso, maltrapilho, ele vivia uma situaçao realemten difícil: frio, fome, desconforto e solidão. Haveria nesse mundo de meu Deus alguém que se lembrasse dele?
O despertador toca e Ricardo, um economista recém-formado de Campinas-SP acorda preguiçoso. Mas, como sabe que seu estágio é um grande trampolim para uma carreira bem sucedida, salta da cama, toma um banho relâmpago (aqueles que a gente toma de manhã mais para despertar do que por higiene…) se arrruma e vai para seu trabalho. Ainda tinha um bom percurso no trânsito de Campinas. Afinal de contas, ele não podia se atrazar. Deus me livre!
A fome visita Aparecido. O frio também. A luta por emprego, comida, oportunidades e sonhos o motiva a caminhar no nada. Era preciso ir a cidade de Sobral. Aparecido vivia na zona rural de Redenção, interior do Ceará. Não havia mais possibilidades de se sobreviver naquele lugar. O jeito era tentar alguma coisa em Sobral. Sem família, o vaqueiro desempregado caminhava. Caminhava apenas, rumo a uma esperança que ele nem sabia mais se valeria a pena esperar. Ouvira falar de umas rezas. Talvez o Deus Eterno poderia socorrê-lo. Qualquer coisa poderia ser melhor do que a sua vida naquele momento. Aparecido era o pobre.
Alguma coisa atormentava Ricardo. Ele era um bom funcionário. Tinha um futuro brilhante na gerencia daquele banco. Mas algo o faltava. Ricardo nascera no Evangelho. Seus pais desde criança o levavam na Igreja. Sempre foi um bom filho, nunca deu trabalho (bem, nunca é uma palavra forte demais. Teve um dia na adolescencia que ele conseguiu cair de uma árove e quebrar os dois braços (!). Mas foi apenas um episódio na sua vida…). Ele era de fato um bom filho, cristão e profissional, todos sabiam. Mas ele não estava feliz, vivia calado. De uns tempos para cá todos percebiam que Ricardo estava diferente. Ricardo era só silêncio.
Aparecido e Ricardo vão se encontrar um dia. Esse encontro será marcante para os dois. Eles serão amigos e vão aprender muito juntos.
Ricardo não aguenta mais. Era preciso conversar com alguém sobre aquele dia. Ricardo, desde a adolescencia, sentia que Deus o chamava para algo especial, diferente. Depois daquele conferencia missionária ele começou a sentir coisas estranhas dentro dele. Nunca falou nada a ninguém. Nem ao pastor, mas havia uma chama acesa dentro dele que agora, naquele momento ardia em chamas. Tomou coragem e ligou para o pastor, ainda se sentindo meio desconfortado. Marcaram um encontro. (Diga-se de passagem, o pastor assustou-se com aquele tímido rapaz no telefone se mostrando aflito).
O que se pode aprender ao ouvir o pobre e o silêncio?
Aparecido não encontra ninguém para socorrê-lo. Apenas caminha tentando chegar. Como a vida pode ser tão dura para alguns? Caminhar com fome e frio, que experiência terrível para aquele homem de 45 anos mas com aparência de 70. Marcado pelo sol ardente do sertão, era mais um dos figurantes da vida nordestina.
O pastor quase não acreita no que houve. Estava em frente a um legítimo vocacionado! (Na verdade todos somos vocacionados, todos temos um ministério). Ali, diante dele estava um apaixonado pelo Reino de Deus, que não podia mais registir. A pressão do dia a dia, os valores sociais, as convenções, a segurança financeira… nada mais o preenchia. Era o chamado. Ricardo começava a entender que não, poderia ser feliz se não se entregasse totalmente a Deus. Ele o tinha dado um ministério, agora estava diante dele as escolhas: obediência ou fuga.
E ele decidiu obedecer. Seus pais ficaram preocupados. Seus amigos apreensivos. Os colegas do banco não entenderam nada ainda. Ele pesquisou, procurou informações, orou muito e decidiu ir para o Nordeste. Ricardo estava de mudança para Crato, interior do Ceará, para se matricular na Escola de Liderança e Implantação de Igrejas da Jocum (Jovens Com Uma Missão)*. Ricardo era mesmo muito corajoso. Sua despedida na Igreja foi cheia de muita emoção. Todos se comprometeram a ajudar, orando e contribuindo.
Era o inicio do encontro dos nossos amigos.
Ricardo chega feliz. Um mundo novo o esperava. Carrega suas malas para o alojamento. Começou a estudar e, nos finais de semana, ajudava implantadores mais experientes nas cidades circunvizinhas. O trabalho ia bem, ele aprendera muito. Estava, junto com o casal de amigos Alexandre e Déborah começando uma igreja na cidade de Sobral.
A obediência nos conduz ao lugares altos da presença de Deus. Na obediência, de servos e filhos, podemos ser feitos a Noiva. Através da obediência, encontramos o caminho da Adoração.
Aparecido senta. Parece que não aguentaria mais. Sente muita dor. Estava meio tonto. Abaixa a cabeça junto aos joelhos e tenta respirar direito. E fica ali, assim, por um tempo que não sabemos definir. Ele precisava recuperar-se. O barulho do vento incomoda seus ouvidos. Era um vento úmigo, típico das madruadas nordestinas. Aparecido nesse momento procura um norte para sua caminhada. Ele sabia que não conseguiria chegar a Sobral facilmente, o que fazer então?
Com seus sentidos parcialmente funcionando, ele se lembra da reza que aprendera quando criança, e, buscando em sua memória, sussura:
“Pai, nosso que estás no céu…”
Ricardo chega na Rodoviária para buscar com o motorista do ônibus a caixa de Bíblias que a SBB (Sociedade Bíblica do Brasil) doara para eles. Enquanto dirigia o carro dos amigos, ia pensando em tudo aquilo que Deus estava fazendo em suas vidas. Que mudança. A estrada estava escura ainda. O sol estava apenas acenando no horizonte, fazia frio mas o carro estava quentinho. A música era boa… tudo apontava para mais um final de semana tranquilo na vida nova de Ricardo. Em meio a neblina da noite, o farol lhe mostra algo inusitado.
Aparecido pisca de relance ante a luz do farol do carro. Olha para cima, acha que é o sol… o sol estava atrazado. Não era. Era um carro passando naquela estrada vazia e fria do sertão. E ele continua sua jornada.
Ricardo vê algo estranho. Parecia um homem andando pelo acostamento. Incomodado ele decide parar o carro. Ele volta para ver o que é aquilo, se era mesmo alguém, certamente precisaria de ajuda. Dois homens enquanto o dia amanhece se olham numa estrada vazia. Ninguém diz nada. Apenas se olham.
Ricardo toma a iniciativa de começar a conversa.
– Olá, meu nome é Ricardo, posso te ajudar de alguma forma?
Aparecido, para a surpresa de Ricardo, interrompe com uma pergunta inesperada:
– Você é o Jesus-Deus? Você veio me ajudar?
Ricardo, engole seco. Sua garganta aperta. Seus olhos tremem…Aparecido continua.
– Deus realmente existe? Só ele poderia me ajudar nessa hora da manhã.
Ricardo oferece carona. Mas não consegue dizer muita coisa.
No carro, começa a falar para Aparecido sobre Jesus. Aparecido recebe aquela palavra com toda fome que tinha. Sua alma estava sendo saciada. Eles param numa lanchonete, já nas proximidades de Sobral. Aparecido mata sua fome do corpo, aquela que o tirara parte dos sentidos.
Aparecido e Ricardo se tornam amigos. A obediência de um jovem chamado Ricardo, mudou o mundo de Aparecido.
Em Sobral, encontrou uma família. Encontrou emprego com irmãos na Igreja. Sua vida deu um giro grande em Sobral. Aparecido encontrara a redenção verdadeira.
Somos transformados pela obediência ao Senhor. Ela nos leva ao lugares de excelencia do relacionamento com o mestre. E ninguém é mais o mesmo quando está caminhando de conformidade com a vontade do Pai.
Ricardo sabia que era importante ouvir o pobre e o silêncio. Ouvir o Espírito e ouvir o mundo.
Ricardo nunca mais seria o mesmo. Aparecido nunca mais seria o mesmo. “Ninguém sai ileso de um verdadeiro encontro com outra pessoa” (Moreno).
Se vale a pena obedecer? Você ainda tem dúvida?
(Nunca deixe de ouvir o Pobre e o Silêncio)
* A Escola de Liderança e Implantação de Igrejas (ELIIG) acontece todos os anos na Jocum Sertão, no Ceará. Para mais informações enter em contato com:
JOCUM SERTÃO:
E-mail: [email protected]
Telefones: +55 88-35210487