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A missão da igreja X ministério da iniqüidade. Categorias:
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Nossa tarefa é muito clara nas escrituras: Ir e evangelizar o mundo inteiro, a todas as nações, ensinando a guardar todas as coisas que Jesus falou.

Há muitos textos que falam da nossa responsabilidade, que é representar Cristo aqui nesse mundo, puxa! Era para nós ao ouvir isso, suspirar profundamente sentindo peso de responsabilidade, pois nossa missão é representar pessoalmente a esta geração quem Jesus foi aqui nesse mundo, será que é sério, ou insignificante?

No monte das oliveiras, quando Jesus está sendo elevado até as alturas, num evento maravilhoso, um espetáculo para aqueles primeiros cristãos. Mas além disso um profundo sentimento de incertezas e talvez insegurança, pois dali para frente eram eles que deveriam dar continuidade as marcas profundas e eternas que o Nazareno Deus aqui entre nós deixou, penso que se estivesse lá sentiria a vontade de lhe falar: por favor, não vá, precisamos do Senhor aqui, há muitas coisas que não sei responder aos Fariseus, sem falar do Império Romano que é tão forte, há muitos cegos, leprosos, aleijados, endemoninhados, e o resto do mundo inteiro que falta te ouvir, falar com o Sr. , e te ver, para ser salvo e curado… . Ver um amigo ir embora sempre parte nosso coração, agora ver aquele que fez com que minha vida finalmente tivesse sentido ir embora! eu me sentiria órfão.

Mas, como ele foi e nos deixou aqui, quais as implicações disso?As implicações são muitas, pois Jesus confiou sua reputação, sua missão de morrer em nosso lugar para nossa redenção, para fazermos, sermos, encarnarmos sua presença aqui, para todo mundo em todas as nações, tribos e línguas.

Será que no decorrer da história da igreja temos levado isso a sério?

O que diríamos então das cruzadas cristãs no mundo que matou milhares de mulçumanos? Ou do processo civilizatório da América Latina, onde ocorreu matança de milhares de índios em nome do deus do papa e em cooperação com o “progresso” português e espanhol. Quem puder por favor assistam ao filme “A missão” que é um filme documentário sobre isso.

Quando eu estive na África no Senegal, um país de maioria mulçumana, eu fui visitar uma ilha chamada ilha de Goré, onde ficavam preso os escravos apreendidos e feitos escravos para serem levados para o Brasil e outros países da Europa, não suportei entrar dentro das celas onde os negros ficavam, no fundo da casa tinha uma abertura onde dava de frente ao mar, uns 30 metros de altura até o mar, alguns devido à fome e aos maus tratos e o medo de se jogarem de lá e morrem por causa das pedras ou se não batessem nas rochas tentavam fugir, mas em vão, pois as correntes marítimas o traziam de volta e a ilha fica muito longe do continente. A atmosfera daquele lugar é de tristeza. Perguntei ao guia senegalês, nativo daquela região se eles perdoaram os europeus que fizeram isso, ele me respondeu, com cabeça baixa.

– Perdoamos, mas nunca vamos esquecer!

Por fim, nos levou a uma igreja católica velha, ao entrarmos lá vimos um lugar morto, o guia nos falou que os escravos eram levados pela força acorrentados e eram obrigados a rezar e cultuar o deu dos brancos.

Logo percebi porque o evangelho naquele país é quase impenetrável, pois quando falávamos de Jesus, eles lembravam do deus dos europeus cristãos que os reduziram a escravidão, a morte e a vergonha.

Volto a perguntar, será que sabemos que Jesus deu a sua reputação para nós? Quando céticos diz não crer em Deus, geralmente é porque eles perderam a fé no cristianismo vivido pela a igreja.

Nós missionários evangélicos, temos falado e vivido um cristianismo que encarna Jesus, livre dos pesadelos da história cruel e racista dos nossos irmãos antepassados cristãos?
Será que nossa mensagem está livre do racismo colonizador, que reduziu por anos os povos só porque tinham a cor da pele diferente, e falavam outra língua?
Nossa mensagem tem sido clara, temos gastado tempo em aprender a língua do povo, ou nos contentamos com a comunicação em línguas européias, e pouco nos envolvemos com esse alvo? Ou quando falamos a língua não damos importância à cultura e a forma que ela enxergar o universo e o mundo espiritual? Somos enviados para amar e junto com o povo formularmos uma teologia cristã, culturalmente entendível respeitando e incluindo os nativos e a sua formas de adorar? Ou já temos as respostas prontas, da teologia ocidental, onde Deus é sistematizado e previsível?

Como um teólogo Português Camilo citou em uma dos seus artigos:

“Já não me lembro onde é que ouvi contar que um crente africano disse aos outros: Tenham paciência. Enquanto cá estiver o missionário, temos de cantar essas músicas esquisitas com o órgão, mas ele já está a olhar para o relógio, pois aprendeu que o culto deve durar uma hora. Quando ele se for embora, então vamos buscar o velho tambor da aldeia e então sim… poderemos louvar ao Senhor durante toda à noite, como Ele merece”.

Nesse início de milênio podemos ter uma virada de mesa, ao invés de qualquer tipo de racismo e discriminação, ou alienação e indiferença quanto à evangelização, compromisso, renúncia, sacrifício e obediência à voz de Deus. E quando falo isso, falo dos índios do nosso país, dos negros e pobres, os quais foram terrivelmente discriminados e abusados durante toda a história do Brasil. Falo dos pobres e excluídos africanos, asiáticos que são excluídos pelos países ricos, que não pensam nas crianças desnutridas, e fome que esses bilhões de pessoas passam. Falo dos mais de 2 bilhões de pessoas que não tem oportunidade fácil de ouvir de Jesus, dos 6 mil povos sem ter uma igreja nativa.

Quando encontramos com Jesus, achamos a sua compaixão, seu amor e desejo que todos venham a ele, e sejam libertos da opressão e o medo, também achamos um Reino melhor do que o desse mundo, mais justo, que nos diz que nossos bens, empresas, dinheiro, e até filhos são para a glória de Deus.

Jesus nos chama para repartir o pão com o faminto, a dar as roupas aos nus, verdade aos que estão na mentira, alívio aos que estão debaixo da opressão.

Somos chamados nesse século para fazermos uma história mais justa do que a da igreja medieval que torturou muitos povos, temos que começar com arrependimento e pedido de perdão às nações, aos índios e aos demais povos oprimidos, assim recuperando a autoridade espiritual perdida por causa de ridicularizarem o nome do nosso amável Jesus, ao usarem a religião cristã como máquina que serviu aos interesses das coroas e reinos tiranos.

Que possamos orar juntos, “Venha a nós o teu Reino, e seja feita a sua vontade assim na terra como no céu”.
Vamos crer que como Ele foi, nós seremos e faremos obras ainda maiores.

Antônio Ricardo A. de Araújo