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Carta de um adorador aos jocumeiros Categorias:
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Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2004.

Aos irmãos, que servem a Deus como ministros de música nas diversas Comunidades Evangélicas no Brasil,

“Eis aí as turmas dos sacerdotes e dos levitas para todo o serviço da casa de Deus; e estará contigo para toda a obra todo homem bem disposto e perito em qualquer espécie de serviço;” (I Cr 28.21)

Que seja Deus exaltado em nossas vidas pela intervenção de Sua graça para que as maravilhas de seu amor atinja corações transformando-os em novos adoradores, porque é isto, afinal, que devemos desejar e buscar: ser verdadeiros adoradores que adoram em espírito e em verdade (Jo 4.23), para assim contagiar o meio em que vivemos e freqüentamos a fim de produzir outros novos adoradores como a nós mesmos pois, como uma árvore frutífera, os frutos do adorador são outros adoradores. Para isto Deus nos chamou. Logo, é necessário nos colocarmos em Suas mãos para cumprirmos seus mandamentos quanto ao ministério que nos foi confiado.

Ao longo de anos tenho visitado diversa igrejas evangélicas em todo o país, e tenho visto problemas semelhantes. Talvez o maior deles seja acreditar ser a música um dom que nasce com o indivíduo. Algo como uma característica genética, que passa hereditariamente de pai para filho. É um erro pensar desta forma. Não tenho dúvida de que Deus é quem capacita, entretanto, trabalho bem orientado, persistência e dedicação sempre, em todo o tempo, foram os grandes responsáveis pela formação musical dos grandes mestres da música.

Preocupado com este aspecto, – crescimento na qualidade do louvor e da adoração a Deus em nosso meio – escrevo para exortar-vos quanto ao entendimento, compreensão e seriedade do trabalho que tem o Senhor colocado em nossas mãos. Não sejamos negligentes quanto a isto. Se Deus tem confiado a nós este ministério, torna-se obrigação de cada um desenvolvê-lo, para que quando vier Aquele a quem nos confiou certa obrigação não nos encontre na situação do servo que enterrou um único talento a ele confiado por displicência (Mt 25. 14 -30).

É comum em nosso ministério atentarmos demasiadamente para o aspecto da unção de Deus sobre o dirigente do louvor. Mas, não podemos desprezar ao fato de que toda unção se restringe à capacidade do servo, como o azeite se limita ao tamanho e a quantidade de botijas (II Rs 4. 1-7). Sem trabalho, estudo orientado, persistência e dedicação, não haverá nenhuma unção, por não haver vasilha para o azeite. Deve-se compreender o papel que devemos desempenhar ante o chamado para este ministério. É nosso dever providenciarmos as vasilhas porque o azeite virá da parte de Deus.

A parábola dos talentos nos mostra de forma clara e objetiva, como seremos cobrados pelo trabalho que nosso Deus nos tem confiado. Os servos que receberam mais, trabalharam e multiplicaram a quantia. Mas aquele a quem foi confiado apenas um talento, por displicência o enterrou, devolvendo a seu Senhor exatamente e somente o que lhe deu, sendo julgado como servo inútil e preguiçoso. Sua recompensa não foi boa, porquanto não cumpriu o trabalho que seu Senhor lhe havia confiado .

Estudar música não é uma opção para membros deste ministério. É obrigação. Pois, sem isto, nós limitamos e restringimos a atuação do Espírito Santo de Deus, tanto em nossas vidas quanto na vida da Igreja como um todo, impedindo um crescimento qualitativo expressivo. Uma grande responsabilidade confiada a nós, ministros de música, músicos e membros das equipes de música, louvor e adoração.
Deus espera que se levante peritos, virtuoses e mestres. Homens que se dedicam ao ministério com inteireza de espírito. Vem e vão gerações sem que isto ocorra. Por esta mazela, temos sido vítimas de modismos musicais inadequados a adoração.

Uma verdadeira adoração é, acima de tudo como a verdadeira oração. Aquela que não é copiada nem baseada em algo que ouvimos ou lemos em algum lugar. A oração deve ser espontânea. É abrir o coração expondo a Deus todas as situações, tanto as que nos alegram como as que nos afligem, sem nada omitir. Assim também deveria ser nossa adoração. Devemos apresentar a Deus algo novo, uma música nova, original, criativa, com destreza, que expressa o verdadeiro de nossa alma, entregando a Deus integralmente nosso coração limpo, fruto de uma vida diária exposta à graça de Deus, evitando cópias e semelhanças tanto de elementos musicais quanto de estilo.

É de conhecimentos de muitos que alguns dos ministros de música imbuídos de demasiado zelo pela espiritualidade, orientam aos seus músicos o dever de ser em primeiro lugar cristãos e depois músicos, ignorando estes que amadurecimento musical dificilmente ocorre antes de 15 anos de estudo sério, enquanto o amadurecimento espiritual dependendo da seriedade do indivíduo, poderá vir bem mais cedo. Todavia, o ideal seria um processo paralelo e constante de busca de conhecimento e amadurecimento como fatores essenciais em nossas vidas. Uma música de adoração madura é aquela produzida, sobretudo, por um adorador maduro, tanto espiritual como tecnicamente.

Precisamos de consciência ministerial, além de maturidade individual de cada membro de uma equipe, para compreender que conhecimento não tem fim, mas tem começo. Assim sendo, não percamos mais tempo discutindo infantilmente entre unção e técnica. Há um campo a semear, há um mundo a ganhar, há almas que dependem da nossa seriedade neste ministério para que sejam alcançadas. Cabe a nós decidirmos quão certo estamos sobre este nosso chamado. Creio não haver mais tempo para discutirmos tampouco o que vem a ser ‘chamado’, mas os que estão diante deste ministério estão como diante de um arado. Não olhem somente, empurrem com firmeza. Estude. Estude muito. Estejam certos de que estão sendo bem orientados. Assim, certamente mudaremos algo em nossa comunidade, transformaremos nosso meio, e contribuiremos para uma consciência superior nas próximas gerações de adoradores. Finalmente Deus será exaltado e adorado em espírito e em verdade. Tudo isto a começar de nós.

É essencial que haja um começo. Se algum membro de uma equipe não estuda ainda, que comece o mais breve possível, porém se, por algum motivo se recusar, então lhe falta maturidade para integrar tal ministério. Deus providenciará recursos necessários para tal, fazei prova disto. É fundamental a união, devemos ser um só corpo: unido com o mesmo pensamento e dividindo o mesmo propósito.
Finalmente irmãos, deixemos de lado questionamentos e discussões sobre o papel da música e de músicos na igreja, prosseguindo e perseverando na carreira que nos foi confiada.

Que a graça de Deus, que abunda entre nós, seja e esteja diariamente presente em nossas vidas, produzindo amadurecimento de que tanto necessitamos para o cumprimento de nossa missão em Cristo Jesus,

Helder Teixeira

Mestre em Música pela UFRJ
Flautista da Orquestra Sinfônica Nacional
Prof. de Flauta do CEIM – Universidade Federal Fluminense
Prof. do Curso Superior de Música da Universidade Candido Mendes
Membro da Comunidade Cristã de Renovação Espiritual de Nova Friburgo